Seleção de fragmentos e tradução: Tomasz Łychowski
Aleksandra Ziolkowska-Boehm:
OPEN
WOUNDS – A NATIVE AMERICAN HERITAGE,
NEMSI
BOOKS
PUBLICADO EM PIERPONT, DAKOTA DO SUL – 2009
Rozdział książki: Aleksandra Ziółkowska-Boehm: Otwarta rana Ameryki /Open Wounds a
Native American Heritage, tytuł:
„Smutek rezerwatów” /„The Sadness of Reservations" ukazał się w
tłumaczeniu na język portugalski (A tristeza das reservas ) w piśmie akademickim „Latinidade” (11-Numero 2
–Julho-Dezemnro 2019). Rio de Janeiro, Brazil. Tłum. Tomasz Łychowski
**
Latinidade
Revista do Núcleo de Estudos das Américas
Volume 11 • Número 2 • Julho – Dezembro 2019
ARTIGOS
Pág. 57- 69
Feridas abertas - as reservas indígenas nos Estados
Unidos
Aleksandra Ziółkowska-Boehm
Fragmentos do capitulo: The sadness of reservations – A
tristeza das reservas. Pág. 41 – 50
Aleksandra Ziółkowska-Boehm
Seleção de fragmentos e tradução:
Tomasz Łychowski
A visão que temos das reservas indígenas é bastante
triste.
Não nos anima. É, geralmente, uma visão bastante
desoladora.
É assim que eu as lembro, quando com Norman fomos a Pine
Ridge Reservation no Dakota do Sul. Seguindo o nosso
mapa,
parecia-nos já termos entrado na reserva. A estrada era
de terra.
A nossa volta, nada havia. Apenas um incômodo vazio. Bem
distante, víamos casas, ou, antes, choupanas. Dirigindo
por
mais meio hora, vimos um jovem caminhando lentamente pela
estrada. Aproximamo-nos dele e paramos o carro. Abri a
janela.
“Você pode nos dizer onde fica a reserva Pine Ridge?”
O moço sorriu para nós visivelmente divertido. Um sorriso
simpático, de poucos dentes.
“Senhora, basta sair do carro e olhar em volta.”
Parece que eu tinha vindo com a impressão errônea de que
as reservas teriam uma placa de boas vindas. Ou, até
mesmo,
que haveria um portal semelhante aos que avistamos nos
Chinatowns das grandes cidades americanas.
Quão diferente entre si são as reservas indígenas nos
Estados Unidos! Quando estivemos no Texas, formamos uma
boa impressão da Reserva Tingua, perto de El Paso. Nessa
reserva
as edificações eram simples, mas atraentes, em estilo
sudeste, e na frente dessas casas havia carros
estacionados de
última geração. A aldeia indígena de Tingua, localizada
na
Reserva Isleta Del Sur Pueblo ficava ao lado do seu
cassino. O
emprego e o lucro que esse cassino proporcionava,
tornava-se,
assim, bem visível e palpável. A aparência agradável
daquelas
casas e do seu entorno era mais um motivo de orgulho
daquela
gente.
Parece-me que é mais fácil descrever o esplendor da
riqueza
do que a pobreza, contudo é a pobreza que é mais
impactante.
A pobreza se revela através de fatos, a paisagem dispensa
palavras. Como poderíamos descrever a pobreza no contexto
dessa paisagem? Como podem palavras descrever essa visão
de
uma pobreza extrema? Como poderia eu descrever a tristeza
das reservas?
A Reserva Pine Ridge está localizada no Condado de
Shannon, no sudeste do Estado de Dakota do Sul. Pine
Ridge
é a segunda maior reserva de índios nos Estados Unidos.
Sua
área cobre quase dois milhões de acres e é o lar de 41
mil índios
Sioux. Muitos deles descendem dos lendários guerreiros
Crazy
Horse, Red Cloud e Sitting Bull.
Lá não há fazendas ou sítios, não há indústria. Nenhuma
das ruas tem nome; a maioria delas não é pavimentada. Não
há
ônibus, trens, bancos, teatros, lojas de roupas,
farmácias,
restaurantes, oficina mecânica, e não há carteiros para
entregar
o correio.
Não tem cinema ou sapataria. Lá, não vi
barbeiro ou salão
de beleza. Nessa reserva homens não tem onde comprar
calças
e as mulheres os seus vestidos. Só há um grande
estabelecimento chamada Big Bat´s, que fica aberto 24
horas e
alguns menores, que mais parecem fortalezas, pois os seus
donos tem medo de assaltos.
O carro é o meio de transporte dos habitantes daquela
reserva,
mas poucos possuem um.
Não apenas o que se constata a olho nu nos diz que essa
região
é a mais pobre dos Estados Unidos; as estatísticas
governamentais o comprovam. O desemprego alcança 88%,
uma entre três moradias não tem energia elétrica ou
saneamento básico. Há o problema do alcoolismo, embora o
regulamento da reserva proibe o consumo de mais de uma
lata
de cerveja. Todavia, as causas de mortes mais freqüentes
em
Pine Wood, são justamente devidas a acidentes provocados
pelo excesso de consumo de bebidas alcoólicas.
Whiteclay, uma cidade próxima em
Nebraska, tem vários
estabelecimentos que vendem bebidas alcoólicas e é lá que
os
índios as compram, já que a venda na reserva é proibida.
Alguns
índios solicitaram que fossem fechados esses
estabelecimentos,
mas o seu apelo não surtiu nenhum
efeito.
Em 6 de outubro de 2006 recebemos uma carta do padre
jesuíta Peter Klink. Ele é o diretor da escola “Red Cloud
School”
em Pine Ridge. Eis o que ele nos escreveu: “Distante
apenas
cinco milhas de “Red Cloud, quatro milhões de latas de
cerveja
são vendidas todo ano numa cidade na fronteira de
Nebraska
que possui apenas trinta e cinco habitantes. Isso
corresponde
ao equivalente anual de cento e trinta e cinco latas de
cerveja
para cada homem, mulher e criança na Reserva.”
Um terço dos índios vive abaixo do nível de pobreza dos
Estados Unidos; metade das crianças na miséria. A renda
anual
por habitante das Reservas é de quatro mil e quinhentos
dólares (para os demais cidadãos dos EEUU é de cerca de
dezoito mil dólares). Em mil recém nascidos, vinte e nove
morrem e muitos nascem com síndrome alcoólica. Cinquenta
por cento dos estudantes abandonam os seus estudos e duas
mil famílias aguardam auxilio moradia. Mas os sem-teto
não
dormem nas ruas, as suas famílias os acolhem, ajudam os
necessitados e alimentam os famintos... quase sempre em
precárias
condições de superlotação.
A revista Time Magazine publicou um artigo sobre Anita
Hollow Horn, uma índia Oglala Sioux, que vive em Pine
Ridge.
Ela mora numa casa de três quartos com quatro filhos, sua
mãe, padrasto e sete irmãos. Ela e sua filha de nove
anos, bem
como alguns outros adultos, moram no porão da casa. O seu
irmão, doente de câncer, e os seus dois filhos bem como
as
demais crianças, ocupam a parte superior da casa. A
maioria
deles dorme no chão. A situação se agrava quando o porão
é
inundado e o mofo cobre as paredes de baixo para cima.
Todavia, a casa da Anita Hollow tem um banheiro, algo
que os outros proprietários de casas em Pine Ridge podem
tão
somente almejar. A secretária da escola Red
Cloud School, uma
jovem de nome Luci Red Stone, nos contou que em sua casa
o
chão é de terra. Não tem água corrente porque não há
canalização. Segundo nos contou, dezesseis pessoas têm de
se
acomodar numa casa de três quartos.
Na fachada da igreja Gospel Fellowship Church colocaram
os seguintes dizeres: Assistência: Nossa Única Esperança.
Antes de vir para a escola Sacred Heart Catholic Church,
que fica na Reserva, o jesuíta Joseph Daniel Sheehan
trabalhou
durante anos na Índia. Ele explicou que na Índia os
hindus são
uma sociedade unida. Eles procuram
seguir o lema: “Na
pobreza somos unidos”. Os índios americanos tendem a
pensar
que: “nós apenas recebemos o que sobra”. Eles entram em
conflito entre si porque a pobreza desune suas famílias.
O
padre termina dizendo: “não sei o que seria de mim se
tivesse
que viver numa reserva. Provavelmente, acabaria um
alcoólatra”.
Essa não foi a primeira vez que ouvi falar que a pobreza
destrói as famílias indígenas. Os brancos são,
geralmente,
sensíveis
à indigência de outras pessoas, inclusive dos índios.
Porém, quase sempre, não tem conhecimento dela. A
publicação mensal “Biography” dedicou um longo artigo ao
comerciante
Rob Young de Seattle que presta ajuda aos índios da
reserva de
Pine Ridge. Ele é um bem sucedido fabricante de artigos
de
esporte. Para ajudar os índios, ele pedia aos que
compravam os
seus artigos para deixar o troco
numa latinha ao lado do caixa.
Mais tarde, ele tomou parte num programa chamado “Adote
um avô/avó”. Este programa congrega voluntários que
enviam
cartas aos velhinhos e lhes prestam ajuda, enviando,
entre
outros, cobertores e lenha para o aquecimento durante o
inverno. Rob Young mantinha correspondência com a idosa
Katherine Red Feather, de setenta e sete anos, que vivia
em Pine
Ridge num estado de triste indigência. Quando Rob se
dispôs
a visitá-la, ela respondeu que a casa dela era meio “precária”.
Embora ela relutasse, ele foi assim mesmo. Ele teve um
choque
quando descobriu que a “avó” que ele tinha adotado morava
num trailer de um só quarto. Ele dividia com uma família
vizinha uma toalete fora do trailer. “Eu conheci famílias
de até
vinte e oito pessoas morando debaixo dum mesmo teto numa
casa bem pequena. Nunca tinha visto tanta pobreza”,
disse-nos
ele.
Depois dessa visita, ele voltou a Seattle com a decisão
firme
de fazer algo para remediar essa situação. Pelo menos,
para
ajudar a “avó” por ele adotada, Katherine Red Feather.
Ele
começou a procurar quem pudesse cooperar com essa
iniciativa. Após dezoito meses, ele tinha conseguido
montar
uma rede de colaboradores bem grande. Essa ajuda veio da
TV
local e do comércio local em Seattle. Apresentaram se
vários
voluntários e Red Redford incluiu no seu catalogo do
Sundance Festival um apelo para que se apresentassem
doadores para a construção de moradias na Reserva de Pine
Ridge.
Alunos de arquitetura da Universidade de Nebraska
contribuíram com projetos de casas simples, mas de boa
qualidade e, eles mesmos, participaram da construção
dessas
casas. Em junho de 1995, Katherine Red Feather mudou-se
para a sua nova casa. Não é grande, mas possui uma
varanda e,
mais importante, tem banheiro e água corrente. Para Red
Feather, essa foi certamente uma data marcante em sua
vida.
Assim, foram construídas trinta casas, sendo que algumas
com rampas para cadeiras de rodas. Um dos moradores disse
que não conseguia sair de casa durante sete anos por
falta de
uma rampa.
A reserva Pine Ridge é tão vasta que até parece separada
do
resto do país. Lá, as condições de vida sublinham
dramaticamente o contraste entre a cultura dominante dos
brancos e a cultura reprimida dos índios. Os índios não
têm
alimentação adequada e tampouco condições de vida
adequadas. Por isso, eles também não têm hábitos do
chamado
mundo civilizado. Na cultura dos Sioux a generosidade é
considerada uma virtude e errado descrever alguém como
ganancioso ou de mão fechada. Ao contrário do que foi
dito
pelo jesuíta Daniel Sheehan, compartilham tudo com os
familiares e com seus amigos. Eles não costumam
economizar
para comprar uma casa, ou fazer obras para melhorá-la e,
tampouco, para investir num negócio. O pouco que têm, é,
geralmente, compartilhado com membros da família. Não se
sentem motivados para poupar dinheiro. Os jovens não
fazem
planos para o futuro, porque não vislumbram um futuro.
Poucos índios alcançam a idade “dourada dos velhos”. A
média
para os homens na Reserva Pine Ridge é de 55 anos. As
mulheres vivem cerca de dez anos mais.
As crianças não ficam pensando o que gostariam de fazer
no futuro; ninguém lhes pergunta quais seriam os seus
sonhos.
Que sonhos poderiam ter já que os seus pais e avôs não
tinham
emprego e viviam de ajuda governamental? Eles fazem parte
da
quinta ou sexta geração de índios que sofrem dos males de
décadas de desemprego. Como poderia tal estagnação de
várias
gerações ser superada?
Os jovens são defrontados com uma existência sem meios
materiais e sem a possibilidade de achar emprego. Os que
sonham não conseguem encontrar trabalho nas reservas. Os
mais afortunados conseguem um emprego nas agências
estaduais ou federais que lidam com a questão indígena.
Outros conseguem algo fora das reservas, mas acabam
retornando porque faz parte de sua cultura cuidar dos
idosos.
Outros tantos voltam com mágoas por terem sido tratados
com discriminação e se sentido isolados na comunidade dos
brancos. Às vezes, aqueles que retornam à reserva já
adquiriram
lá fora o hábito da bebida e um número significante deles
comete suicídios. Dados estatísticos nos EEUU mostram que
a
taxa de suicídio é 6 vezes maior entre os índios do que a
média
do país.
Alguns trabalham fora da reserva, mas, na maioria dos
casos, recebem somente um salário mínimo. Esses não
ganham
o suficiente para pagar um plano de saúde e perdem
direito à
assistência de saúde que tinham na reserva. O governo não
arca
com planos de saúde fora da reserva, pois é de opinião
que isso
seria da alçada e dos fundos da
Agência Indígena.
A imensidão das reservas, o seu isolamento e sua pobreza
extrema, são agravados pela aridez do solo e pelo clima
difícil.
Uma grande parte do território é o The
Badlands – terra
inóspita. Tente lembrar-se das paisagens dos filmes
western –
das esculturas esculpidas em calcário, com alguma grama
na
vasta campina. Quando vi The Badlands pela primeira
vez,
fiquei impressionada. Não por sua
beleza majestosa,
masporque The Badlands mais parece um
monumento
devastador à pobreza do solo. Lá,
não há água, não há verde.
Isso me lembrou as rosas de areia, que Norman me trouxe
da
Arábia Saudita – grãos de areia em formato de lindas
rosas. Elas
até podem ornamentar a janela
panorâmica da nossa casa, mas
as terras do The Badlands nos enchem de
pavor como os
aterradores contos de fada da nossa infância. Quão
desolador
deve ser passar uma noite nos The
Badlands.
.... .... ....
Em muitos países em processo de desenvolvimento os seus
governos promovem políticas que visam estimular
investimentos que vem de fora. Algo assim deveria ocorrer
nas
reservas indígenas. Todavia, as instituições que as
administram
não têm verbas (elas têm um orçamento bastante
restritivo)
para investir e não estimulam as pessoas a fazê-lo. Os
índios
não conseguem obter créditos, pois as suas terras “estão
em
custódia do governo federal”.
E, por isso, o sistema tribal não tem como desatar esse
nó.
... ... ...
Alguns índios tentam a sua sorte no comércio. Emma
“Pinky” Clifford é dona de um estabelecimento distante
trinta
quilômetros da reserva Pine Ridge. Ela o adquiriu há oito anos.
No começo, ela morava num trailer e vendia gasolina.
Posteriormente, conseguiu um empréstimo e construiu uma
venda. Agora ela, além da gasolina,
também vende outras
coisas.
Soube também de outras iniciativas. Uma delas foi de
Rosalie e Bob Benson, que eram sócios de uma empresa
artística. Já Leatrice “Chick” Big Crow, uma índia, abriu
um
centro de recreação onde às crianças indígenas e jovens
eram
oferecidas atividades construtivas que as afastavam das
bebidas
e das drogas.
... ...
...
Durante os últimos vinte anos, o governo federal
aumentou o seu orçamento em praticamente todas as áreas,
menos para solucionar os problemas ingentes dos índios.
Faz
algum tempo, o governo prometeu que, no mínimo, toda
criança índia teria assegurada moradia, assistência
médica e
ensino básico. Como todas as promessas governamentais,
essa
também não foi cumprida.
Duas horas distante de viagem de Pine Ridge, perto de
Rapid City, há uma mina de ouro, que deveria pertencer
aos
índios, já que se encontra em seus território.
Os índios Sioux solicitaram ao governo uma compensação
pelas terras que lhes foram tomadas em 1877. “Todos esses
montes em volta são para nós sagrados” – afirmou Sam
Loudhawk.
Pelo tratado assinado em 1868 no Fort Laramie, à grande
nação Sioux foi garantido o direito ao território ao
oeste do rio
Missouri e que agora faz parte de South Dakota. O tratado
foi
rompido depois de seis anos, quando lá se descobriu minas
de
ouro.
O presidente Bill Clinton visitou Pine Ridge em julho de
1999. Ele foi o primeiro presidente dos EEUU a visitar
uma
reserva indígena após a breve visita de Franklin Delano
Roosevelt em 1936 na Reserva Cherokee na Carolina do
Norte.
A visita de Clinton despertou bastante interesse na mídia
falada e escrita. Na TV mostraram uma conversa de Clinton
com um grupo de índios. Um índia,
Geraldine Blue Bird, de
quarenta anos de idade, lhe disse que morava numa casa de
cinco cômodos e que com ela lá moravam vinte e sete
pessoas.
Ela não tinha dinheiro para aquecer a casa durante o
inverno.
Para se sustentar, fazia e vendia tacos. Não havia
outra
possibilidade de ganhar algum dinheiro. Com os olhos
marejados de lágrimas, ela disse: “Seria tão bom se
pudéssemos
ter
algum tipo de trabalho!”
O presidente Cllinton teve, posteriormente, a iniciativa
de
formar uma comissão especial para criar mil vagas de
trabalho
e para incentivar homens de negócios a criar condições
para
investimentos naquela área. Mas o fundo de dois milhões
de
dólares criado para esse fim, não é suficiente. Para
começar, são
necessárias boas estradas para escoar os bens produzidos.
Como mencionei anteriormente, em Pine Ridge, que faz
parte
dos Estados Unidos, um país tão orgulhoso de suas
autoestradas,
não existem estradas pavimentadas. No Dakota do
Sul, os invernos são longos e severos. Quando chove, há
lama
por toda parte e em tempo de seca, nuvens de poeira. No
verão,
por falta de esgotos, há proliferação de moscas.
Pine Ridge é diferente de todas as demais reservas, nas
quais algumas tribos indígenas lucram grandes somas
graças
aos cassinos. Mas a grande maioria das reservas é de
pobreza
inimaginável e de estagnação total.
O repórter John J. Miller expressou a opinião de que:
“Chegou a hora de fechar as reservas.” Não há dúvida de
que o
conceito de reserva precisa ser repensado. Há muitas
explicações (ou quem sabe escusas) relativas a situação
existente. Em sua grande maioria, prepondera a opinião de
que
o sofrimento dos índios decorre do fato de a terra lhes
foi
tirada. Pine Ridge está localizado onde ocorreu o grande
massacre de índios em Wounded Knee, em 1890. Naquele
sitio,
trezentos índios foram mortos, inclusive mulheres e
crianças.
Quando Norman e eu lá paramos nosso carro, somente uma
simples placa identificava o lugar como sendo Wounded
Knee.
Não há nada mais, tão somente a placa e a vasta planície.
Entrevistei Rex Alan Smith que me disse que, em vez de
focar o presente, a uma tendência de reabrir velhas
feridas. Ele
acha que o problema principal nas reservas não é a terra,
que o
governo federal, gerações atrás, tirou dos índios. É
antes uma
noção
controvertida sobre a questão a quem ela pertence. Os
índios não conseguem obter créditos bancários porque os
bancos não podem hipotecar a terra. Se os índios não
estão em
condições de pagar o crédito junto ao banco, esses não
podem
exigir a posse de terra como se essa tivesse sido dada em
garantia. Por esse mesmo motivo, os índios não conseguem
créditos para construir casas; algo que é muito comum e
popular nos EEUU, mas não nas reservas. A única solução é
pleitear crédito para comprar um trailer-moradia. Isso,
sim, é
possível, porque o banco pode exigir o trailer de volta.
Rex Alan Smith nos explicou que a independência das
tribos é ilusória. As reservas não funcionam como países
independentes, os que lá habitam são cidadãos americanos,
mesmo tendo sua própria jurisdição e polícia.
Há problemas de toda sorte. As questões indígenas são tão
complicadas e complexas que é mais fácil conceder-lhes
uma
verba anual de quarenta milhões de dólares em fundos de
ajuda
do que tentar resolver os seus problemas.
A solução seria talvez, um novo código comercial, que
permitisse aos índios dar a sua terra em garantia.
Todavia, Pine
Ridge não concorda com essa solução. Além disso, os
fortes
conflitos tribais não ajudam a criar uma conjuntura
construtiva e favorável. E também há os índios que se
consideram puro-sangue que se colocam contra aqueles que,
segundo eles, não o são.
Um presidente eleito lidera a tribo, mas o seu mandato é
de apenas dois anos e, assim, não há como introduzir
reformas
profundas na legislação em tão curto
prazo. Alguns
dos
melhores experts nos EEUU, são de opinião que somente
reformas promovidas na legislação pelos próprios índios
poderão mudar as regras ora existentes e, desse modo,
criar
condições favoráveis ao desenvolvimento econômico. Até
agora, todos os projetos apresentados foram criticados
pelos
indígenas
como sendo coisas de homem branco. Por isso, a não
ser em se tratando de compras de coisas básicas, é
preciso viajar
até para fora das reservas para adquirir bens de consumo.
Fala-se da inabilidade dos índios quanto à pontualidade e
de indisciplina no trabalho profissional. Todavia, esse
argumento pode ser apena uma escusa para não lhes dar
treinamento apropriado. O desempenho de índios nas forças
armadas prova o contrário. Está mais do que provado de
que lá
eles são pontuais, regrados e, em situações de guerra,
demonstram grande bravura.
***
Seleção de fragmentos e tradução: Tomasz Łychowski
OPEN
WOUNDS – A NATIVE AMERICAN HERITAGE
NEMSI
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PUBLICADO EM PIERPONT, DAKOTA DO SUL – 2009
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